Depois de olhar meu banco de dados e as informações armazenadas que tenho, resolvi contar quantos indicadores fundamentalistas normalmente calculo para as empresas. Encontrei 51 indicadores diferentes, dos quais muitos nem uso para falar a verdade. Vários deles são apenas pequenas variações de outros e a interpretação é bastante parecida. Desses, oito envolvem dados das demonstrações financeiras e os preços. O resto, portanto, utiliza apenas informações do balanço, da demonstração de resultados e demonstração de fluxo de caixa.
Assim, torna-se possível fazer uma leitura completa de uma companhia, com análise de solvência, estrutura de capital, estratégia, eficiência, situação econômica e múltiplos (que envolve também os preços). Mesmo com tudo isso em mãos, certeza de ganhos não há. Porém, utilizar as ferramentas disponíveis de forma adequada reduz bastante o risco de perder.
No fim das contas, a pergunta é a seguinte: como utilizar isso para ganhar dinheiro? A verdade é que há muitas formas de usar essas informações e lucrar. O importante é conseguir identificar o óbvio antes de todo mundo. Assim, quando todos perceberem que uma ação está atrativa você já estará posicionado nela e aproveitará todo o movimento de alta.
De modo geral, existem três estratégias que talvez sejam as mais usadas, tanto por analistas quantitativos quanto discricionários. São elas: qualidade, valor e crescimento.
Qualidade
O conceito é muito simples de entender: investir em empresas boas.
Os indicadores financeiros são fundamentais para ajudar a identificar as melhores empresas. Endividamento baixo, com mais capital próprio do que de terceiros, eficiência operacional, lucratividade, um bom retorno sobre o capital, crescimento de receita e distribuição de dividendos consistente são algumas das características desejáveis.
Como saber o que é uma empresa eficiente ou um bom retorno sobre o capital? Basta comparar os indicadores de uma companhia com a média do setor e com seus pares. O patamar de um setor pode ser diferente de outros, com margem de lucro maior ou menor, por exemplo. Então, não é uma boa ideia estipular valores e usá-los como alvo para todas as companhias.
A grande vantagem de investir em empresas boas é que elas oferecem maior segurança em momentos de crise. Por outro lado, a qualidade já costuma estar no preço, o que torna difícil encontrá-las mal precificadas. Com isso, o prêmio pelo risco é menor, o que faz com que o retorno esperado seja mais baixo.
Valor
Também conhecida como Value Investing, essa talvez seja a estratégia mais popular entre os investidores, dado que quase todo mundo que entende um pouco de investimentos já ouviu falar de Warren Buffett, que construiu sua fortuna com essa técnica.
Identificar valor significa buscar ineficiências de mercado, investindo em companhias que valem menos do que deveriam quando comparado com o lucro que entregam. Em outras palavras, o objetivo é comprar barato.
Para isso, utilizam-se indicadores que combinam dados das demonstrações financeiras e o preço, como o P/E ou EV/EBITDA, por exemplo. Quanto maior o lucro, menor será o indicador e, portanto, mais atrativo o investimento. Assim como no caso anterior, o ideal é comparar o valor atual com alguma outra coisa. Nesse caso, os valores passados seriam uma boa opção, pois seria possível saber em que intervalo o indicador flutua para uma determinada companhia.
A grande vantagem é a conhecida margem de segurança, ou seja, ao comprar uma ação por um preço menor do que o preço justo, se a expectativa de crescimento não se materializar, pode-se esperar que, no mínimo, o mercado enxergue a discrepância e haja uma convergência do preço para o valor justo, ou valor intrínseco.
No entanto, nem sempre o preço estará baixo por má precificação do mercado. Mudanças de regulação do setor, surgimento de novos competidores, piora de perspectiva macroeconômica, fraudes ou corrupção podem resultar em uma reavaliação de empresas por parte dos analistas e o preço cair porque o mercado considera adequado. É importante ter sensibilidade para perceber essas mudanças.
Crescimento
Estratégia de crescimento significa investir em empresas que apresentam crescimento econômico rápido ou constante.
As small caps (empresas pequenas) são as que geralmente apresentam esse tipo de característica, dado que normalmente estão em processo de expansão e, juntamente com o aumento de participação de mercado, apresentam aumento da receita.
Atualmente no Brasil, as fintechs se enquadrariam bem nessa estratégia, com bancos menores crescendo rapidamente e aumentando seus market shares.
O lado bom disso é que não é difícil encontrar casos de investimentos que dobraram de preço em períodos relativamente curtos, de poucos anos. Porém, o risco também é consideravelmente maior, com oscilação de preços (volatilidade) que muitas pessoas não tolerariam.
Nos momentos de crises e correções do mercado as small caps costumam apresentar desvalorização bem maior do que as grandes empresas (large caps). Assim, a diversificação torna-se essencial para balancear bem o portfólio.
Conclusões
É possível perceber que as estratégias de qualidade e crescimento possuem ideias opostas, uma com empresas maduras e sólidas e a outra com empresas menores e com grande potencial de crescimento futuro. Existe uma boa oportunidade de diversificação nesses grupos de companhias.
A estratégia de valor pode ser usada tanto com empresas grandes quanto pequenas e médias. A escolha depende principalmente da preferência que cada pessoa tenha por volatilidade.
Assim, um investidor não precisa necessariamente escolher apenas uma das três opções, mas pode utilizar uma combinação delas no momento que for mais oportuno para cada tipo. Isso tornaria o portfólio mais diversificado tanto em relação às empresas quando às estratégias.